Sendo o isolamento reprodutivo um evento chave para a especiação, mecanismos que determinam e acarretam esse isolamento são fundamentais, tanto para o isolamento em si, quanto para o processo de origem de novas espécies.
Os mecanismos de isolamento reprodutivo são todos os fenômenos e processos que impossibilitam duas populações de se relacionarem reprodutivamente e gerar descendência fértil. Ainda assim, não se resume apenas a mecanismos de esterilidade. Dessa forma, os mecanismos de isolamento reprodutivo podem ser classificados quanto a maneira que agem definindo o isolamento, podendo ser pré-zigóticos ou pós-zigóticos.
Isolamento Pré-Zigótico
Mecanismos de isolamento pré-zigóticos são aqueles que tem como objetivo impedir a fecundação, ou seja, indivíduos de duas populações não chegam nem a copular, ou quando chegam, não ocorre formação do zigoto.
Dois fatores genéticos estão relacionados e podem contribuir para o isolamento pré-zigótico:
- Pleiotropia: quando um gene é responsável por mais de um característica fenotípica no organismo;
- Efeito carona: quando a seleção natural favorece um determinado gene ou conjunto de genes que estão ligados em locus, favorecendo a frequência de todos os genes contidos no locus e não apenas do gene selecionado.
Uma teoria que serve de exemplo para mostrar a interferência da pleiotropia no isolamento reprodutivo é a dos tentilhões de Galápagos. Darwin analisou que o formato do bico mudava em cada espécie de tentilhão, de acordo com o tipo de alimento disponível no local em que a espécie fora encontrada. Com a mudança do formato do bico para suprir a necessidade de alimentação, o tipo de canto de cada espécie também mudou. Dessa forma, um gene que é favorecido devido a melhor adaptação ecológica da espécie também causa isolamento reprodutivo, já que pássaros irão acasalar com aqueles que emitem sons semelhantes.
Diferença no formato do bico de espécies de tentilhões encontrados no arquipélago de Galápagos.
Um exemplo do efeito carona é o Experimento de Dodd. Duas populações de moscas Drosophila pseudoobscura foram separadas de uma única população inicial e submetidas a dietas diferentes. Uma população foi alimentada a base de amido e a outra população a base de maltose. Após oito ou mais gerações, formadas separadamente em cada população, elas foram novamente unidas. Porém, as moscas preferiam acasalar entre as que possuíam os mesmos hábitos alimentarem.
Análises mais apuradas mostraram que a dança de acasalamento das moscas parecia diferente entre os dois grupos. Dessa forma, o gene responsável pela produção de enzimas digestivas para o alimento pode estar no mesmo locus dos genes responsáveis pelo comportamento da mosca durante o acasalamento.
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Mecanismos Pré-zigóticos
- Isolamento ecológico ou de habitat: quando as duas populações se encontram em habitats diferentes, mesmo que na mesma região. Exemplo: em condições naturais, leões e tigres não se cruzam, por viverem em habitats diferentes.
- Isolamento sazonal ou temporal: quando a temporada de acasalamento de duas populações ocorre em estações diferentes. Exemplo: rãs que vivem em um mesmo habitat, mas não se reproduzem na mesma época. Esse isolamento também se aplica a vegetais que, embora habitem uma mesma região, florescem em dias diferentes, o que impede o cruzamento entre eles.
- Isolamento sexual ou etológico: indivíduos de uma determinada espécie não apresentam atração sexual por outras espécies de modo geral. Exemplo: o canto dos pássaros machos ou seu comportamento sexual durante a temporada de acasalamento é atrativo apenas para as fêmeas de sua espécie.
- Isolamento mecânico: quando os órgãos sexuais de duas populações não são complementares, o que impede a cópula ou transferência de gametas. Exemplo: em angiospermas, pode não germinar o tubo polínico no estigma de outra flor.
- Isolamento gamético: ocorre uma incompatibilidade entre os gametas de espécies diferentes, podendo ser inviáveis no dutos sexuais ou estilos de outras espécies. Exemplo: muitos animais aquáticos depositam seus gametas na água, no mesmo local e ao mesmo tempo, mas a fecundação ocorre apenas entre os gametas originados pela mesma espécie. As membranas dos óvulos possuem moléculas específicas, que são reconhecidas por moléculas complementares dos espermatozoides da mesma espécie.
- Isolamento por polinizadores diferentes: espécies de plantas podem ser especializadas em atrair um tipo específico de polinizador. Exemplo: plantas que produzem substâncias atrativas apenas para insetos, enquanto outras possuem polinização pelo vento.
Isolamento Pós-Zigótico
No isolamento pós-zigótico, há fecundação, podendo até haver produção de descendentes híbridos (gerados a partir de organismos de espécies diferentes), mas estes descendentes podem morrer rapidamente ou serem estéreis, não possuindo a capacidade de se reproduzir.
A teoria de Dobzhansky-Muller ajuda a compreender os paradoxos envolvidos nesse tipo de isolamento. A teoria constata que o isolamento pós-zigótico pode evoluir sem dificuldade se fosse controlado pela interação de determinados locus gênicos.
Uma vez que não há mais fluxo gênico entre duas populações, cada população passa a se adaptar às condições específicas para sua sobrevivência, gerando alterações adaptativas em locus gênicos diferentes. Quando se tenta retomar o fluxo gênico entre as duas populações, as modificações genéticas foram tantas que os descendentes gerados são estéreis ou inviáveis.
Mecanismos Pós-Zigóticos:
- Inviabilidade do híbrido: híbridos gerados a partir do cruzamento de duas espécies não são viáveis e morrem ainda na fase embrionária ou poucos dias após o nascimento. Exemplo: algumas espécies de rãs que habitam uma mesma região podem cruzar-se, mas o cruzamento geram híbridos interespecíficos que não se desenvolvem.
- Esterilidade do híbrido: híbridos estéreis são gerados e produzem gametas inviáveis ou não funcionais. Exemplos: a mula ou o burro, cruzamento entre o asno (Equus africanus asinus) e a égua (Equus ferus caballus), é estéril e não consegue se reproduzir.
Mula gerada a partir do cruzamento entre o asno (Equus africanus asinus) e a égua (Equus ferus caballus)
- Desmoronamento do híbrido: o híbrido gerado não é estéril, mas só gera descendentes estéreis ou inviáveis.
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