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Atualidades Enem: Patrimônio histórico

A recente onda de protestos antirracistas pelo mundo destruiu alguns monumentos históricos considerados escravocratas e rescendeu uma velha discussão sobre a preservação dos patrimônios históricos e culturais do país

A recente onda de protestos antirracistas pelo mundo tem abalado até estátuas, literalmente. No último mês, a escultura do traficante de escravos Edward Colston foi derrubada e jogada em um rio por manifestantes na cidade de Bristol, na Inglaterra.

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Ingleses derrubaram a estátua do escravocrata Edward Colston e jogaram no rio (Reprodução/Twitter)

Nos Estados Unidos, uma estátua de Cristóvão Colombo na cidade de Boston foi decapitada por manifestantes e outra, em Baltimore, foi derrubada. O navegador, que é considerado o descobridor das Américas, também estimulou o genocídio indígena e o comércio de escravos.

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No Brasil, são inúmeros monumentos, rodovias, ruas e prédios que têm o rosto ou nome de personagens históricos da época da colonização, escravidão ou ditadura militar. Um exemplo é o Monumento às Bandeiras, na cidade de São Paulo.

Assim como na estátua, os bandeirantes ficaram marcados na história como heróis do processo de colonização do Brasil, por suas missões de desbravamento das terras interioranas entre os séculos XVI e XVII. 

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Monumento às Bandeiras foi pichado por manifestantes em 2016 (Rovena Rosa/Agência Brasil)

Entretanto, nesse processo, eles também foram responsáveis pela escravização e extermínio de milhares de indígenas. Durante um protesto sobre a demarcação de terras indígenas em 2013, manifestantes mancharam de vermelho e picharam os dizeres “bandeirantes assassinos” na estátua. Em 2016, o monumento foi novamente depredado.

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Em junho, para evitar outros atos de vandalismo na estátua do bandeirante Borba Gato, também em São Paulo, a prefeitura colocou um cercadinho de proteção e vigilância policial em torno do monumento.

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(Júlio César/Reprodução Instagram)

O que é patrimônio histórico?

A destruição ou depredação de estátuas de personalidades históricas consideradas racistas faz parte do protesto contra a desigualdade racial presente nas sociedades até os dias de hoje. 

A questão tem gerado muito debate entre os especialistas e nas redes sociais. Isso porque os monumentos fazem parte do patrimônio histórico e cultural do país em que se encontram. O patrimônio histórico é o conjunto de todas as obras, bens e manifestações populares como festas, danças, alimentos, tradições e locais culturais

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Os patrimônios históricos são divididos em materiais e imateriais. O patrimônio material diz respeito aos bens físicos, móveis e imóveis, como igrejas, prédios antigos e sítios arqueológicos. Já o patrimônio imaterial é representado pelas receitas e técnicas culinárias, fabricação de utensílios e instrumentos, festas típicas, vestimentas, conhecimentos e expressões culturais de uma comunidade. 

Todo patrimônio histórico representa o passado e a memória de um povo. O professor de História do Projeto X, Gabriel Feitosa, explica que é importante que o patrimônio seja preservado para que o povo se lembre quem são, quem foram seus antepassados e quem foram aqueles que geraram sua nação de alguma forma.

“Um povo sem patrimônio é um povo de uma identidade perdida. Se a identidade se perde, é como se um povo nunca tivesse existido. No Museu Nacional que foi incendiado, por exemplo, se tinham os únicos registros fonográficos de línguas indígenas que se perderam”, reflete Gabriel.

A escolha das imagens, objetos e memórias que serão preservadas e passadas como herança às gerações futuras diz muito sobre o momento histórico em que elas foram escolhidas, bem como a respeito das relações de poder.

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Afinal, as estátuas devem ou não ser derrubadas?

O professor Gabriel esclarece que o movimento de quebra de ícones e estátuas não surgiu agora, esses processos acontecem desde a Idade Média

“Sempre que temos uma mudança brusca das questões sociais ou acontece um movimento revolucionário, é comum o processo de transformação daquilo que consideramos memória. Quando um regime político muda, como aconteceu com a queda de Hitler e Mussolini, por exemplo, é comum que esse novo governo olhe para o passado de uma maneira diferente, que busque outras referências de heróis nacionais”, pontua. 

Em alguns lugares, monumentos considerados racistas foram revistos. Foi o caso do Museu de História Natural de Nova York, que retirou a estátua do ex-presidente americano Theodore Roosevelt da sua entrada principal. 

Na Bélgica, uma estátua do rei Leopoldo II foi removida após depredações, ela será restaurada e mantida em um museu. O monarca escravagista é considerado um dos mais genocidas da história, ele foi responsável pela morte de milhões de pessoas no Congo Belga, sua antiga colônia. 

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Estátua do rei Leopoldo II depredada na Bélgica (Reprodução/Internet)

No Brasil, a deputada estadual Erica Malunguinho (PSOL) protocolou um projeto de lei para a remoção dos monumentos que homenageiam personagens escravagistas no estado de São Paulo. 

Prós e contras

Para os favoráveis à remoção dos monumentos, a derrubada é um ato de reparação histórica, principalmente para os descendentes dos grupos que foram violentados pelas figuras históricas em questão.

Alguns historiadores e pesquisadores defendem que as estátuas sejam retiradas das vias públicas, onde são homenageadas, e recolocadas em museus, onde devem ser contextualizadas e tidas como objetos de estudo para a história não se repetir. 

Já os contrários à retirada dos monumentos defendem que os bens fazem parte do patrimônio histórico e devem ser preservados. Para eles, a destruição dos patrimônios é uma tentativa apagar os acontecimentos e de revisionismo histórico. 

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Posicionamento do historiador Laurentino Gomes, autor do livro “Escravidão”, no Twitter (Reprodução/Twitter)

Uma das propostas é a instalação de placas informativas que expliquem e contextualizem o momento histórico representado pelo monumento, gerando debate nas gerações atuais e futuras. 

Para o professor Gabriel, a pressão popular para retirada dos monumentos é válida: “É complicado ficar celebrando a escravidão em pleno século XXI. Já que queremos deixar esse passado para trás, é interessante celebrar outras memórias. Mas, não podemos encobrir ou esquecer a memória sobre escravidão, a ideia é trazer uma memória que seja crítica. Podemos até ter um estátua que faça referência a um escravocrata, desde que ela tenha um tom crítico e sugira um debate sobre aquela personalidade e não simplesmente exalte sua figura”.

Patrimônio histórico cai no Enem?

O tema patrimônio histórico faz parte da Matriz de Referência do Enem e é comum na prova, de acordo com um levantamento feito pelo Sistema Ari de Sá (SAS), “patrimônio histórico-cultural e memória” esteve presente em 6,1% das provas entre 2009 e 2017.

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Questão sobre patrimônio histórico no Enem de 2016 (Resposta: letra E)

Portanto, é indispensável entender mais sobre o assunto. Para o Enem, o professor Gabriel aconselha que os estudantes dominem a diferença entre patrimônio material e imaterial e entendam a funções do patrimônios no resgate da história do país, especialmente da história indígena e afro-brasileira.

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