Muitas vezes, o julgamento que fazemos das outras pessoas se baseia nas nossas próprias crenças e experiências. E assim também acontece num aspecto maior: uma cultura pode enxergar a outra a partir da própria visão. Esse fenômeno é chamado de Etnocentrismo e, ao longo da história, é possível encontrar muitos exemplos disso.
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O etnocentrismo é um conceito vindo da antropologia, que pode ser definido como as maneiras pelas quais uma cultura ou etnia tem de enxergar outras, a partir de uma visão própria. Por exemplo, uma determinada sociedade ou etnia, enxerga, julga e categoriza outras a partir de elementos sociais, culturais, religiosos e econômicos próprios.
A visão etnocêntrica é aquela em que os grupos sociais enxergam o mundo com base em suas próprias práticas culturais e crenças e desconsideram ou inferiorizam as crenças e culturas das sociedades observadas. Por isso, o observador de outra cultura ou sociedade, no geral, pode não reconhecer a alteridade do grupo observado.
O Relativismo cultural é um conceito também vindo da antropologia que busca observar e entender outras culturas a partir do afastamento do etnocentrismo. No relativismo cultural, os antropólogos e estudiosos buscam, ao observar sociedades, não usar comparações, sendo assim, afastam-se dos critérios de superioridade e inferioridade de uma sociedade em relação a outra.
Sob a análise relativista, a singularidade e os códigos de cada grupo social e manifestações culturais, servem como parâmetro para a análise, sem que haja julgamento de uma cultura a partir dos conceitos e ideologias do outro observador ou pesquisador. No processo de observação de outras culturas, é necessário que o antropólogo ou outros pesquisadores abandonem seus juízos de valores e códigos culturais para evitar que façam análises a partir da comparação.
No desenvolvimento da antropologia, o relativismo cultural foi importante para afastar as comparações e análises que partiam do eurocentrismo e do etnocentrismo. Tais perspectivas foram usadas desde antes do período da expansão marítima comercial, principalmente pelos europeus, que afirmavam que a cultura e organização social e política europeias eram superiores a de outras sociedades, que eram, a partir desse ponto de vista, consideradas atrasadas e inferiores.
O relativismo cultural tem origem nos estudos do Antropólogo teuto americano Franz Boas, que foi um dos pioneiros na antropologia. Ele organizava e julgava as culturas a partir de elementos hierarquizantes. Embora tenha pensado no conceito, o termo relativismo cultural, nunca foi empregado por Boas, o nome foi dado postumamente, para definir as ideias do antropólogo.
A aplicação dos conceitos de relativismo cultural, mudaram a maneira como os pesquisadores analisavam as sociedades e as relações de dominância. Boas, usou as ideias na observação de sociedades esquimós e concluiu que elementos europeus não serviriam para explicar as práticas realizadas pelas sociedades que estudava, o mesmo aconteceu nos estudos da antropóloga estadunidense Margaret Mead, ao estudar as culturas da Nova Guiné. No Brasil, o antropólogo francês Claude Lévi- Strauss aplicou o relativismo cultural ao observar as tribos indígenas brasileiras e desenvolveu importantes contribuições para a teoria estruturalista.
Entre os séculos XV e XVII, período das grandes navegações e achamento do continente americano e do Brasil, a conquista e colonização, foram culturalmente fundamentadas em bases etnocêntricas. Os relatos dos viajantes e a carta de Pero Vaz de Caminha enviada ao rei estabelece a cultura europeia como superior e a indígena, inferior e atrasada.
Também através de uma carta, o historiador e cronista português Pero de Magalhães Gândavo, escreveu ao rei de Portugal que por não terem nem fé, nem lei, nem rei, os povos nativos viviam desordenadamente.
O modelo de vida tribal, a falta de rígidas estruturas estatais e religiosas, a visão eurocêntrica e de superioridade cultural, marcaram o processo de colonização do Brasil e de outras áreas da América. Do ponto de vista dos europeus, cabia a eles a tarefa de levar a superioridade cultural europeia para os territórios conquistados, minimizando assim o que consideravam ser atraso e a inferioridade cultural das populações nativas.
Embora o período colonial tenha terminado em 1822 com a Independência do Brasil, a visão etnocêntrica não se desfez. Atualmente, grupos sociais ainda se consideram superiores e mais desenvolvidos do que outros. Homens brancos, em uma escala hierárquica, muitas vezes ainda se consideram melhores do que negros e indígenas. A visão etnocêntrica além de promover distinção racial e exclusão social, ainda pode pontuar diferenças entre regiões geográficas, bairros ou outros locais de convívio.
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O ponto de vista etnocêntrico de um grupo em relação ao outro, pode inclusive, fomentar práticas e atitudes racistas ou que firam os direitos humanos, pois a partir do momento que um grupo se considera superior ao outro, poderá agir para promover o processo de aculturação ou destruição daquela sociedade ou grupo que considera inferior.
O etnocentrismo pode também colaborar com a xenofobia, que significa o medo ou aversão ao estrangeiro. A partir do momento que uma sociedade ou grupo social se considera superior ao outro, poderá estimular entre seus seres sociais atitudes xenofóbicas repudiando, até violentamente, práticas e manifestações culturais de outros grupos.
No Brasil, é possível apontar ainda nos dias de hoje, ações e práticas discriminatórias baseadas no ponto de vista etnocêntrico e herdados da ideia superioridade que os europeus acreditavam ter em relação aos povos nativos e aos negros. Além da questão racial, que culmina em práticas racistas, é possível observar também a visão etnocêntrica usada para explicar a superioridade de regiões do Brasil em relação a outras.
No mundo, um exemplo marcante de etnocentrismo aconteceu durante a 2ª Guerra Mundial, quando o governo nazista de Adolf Hitler afirmou que a raça ariana seria superior a todas as outras. Por esse motivo, judeus e outros grupos minoritários como negros, ciganos e homossexuais deveriam ser perseguidos e eliminados.
O etnocentrismo, pode portanto, extrapolar somente a percepção de superioridade e, dependendo da forma como é utilizado, pode colocar em risco grupos sociais e práticas culturais, promovendo, inclusive, a destruição de culturas e de seres humanos.
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TEXTO I
Documentos do século XVI algumas vezes se referem aos habitantes indígenas como “os brasis”, ou “gente brasília” e, ocasionalmente no século XVII, o termo “brasileiro” era a eles aplicado, mas as referências ao status econômico e jurídico desses eram muito mais populares. Assim, os termos “negro da terra” e “índios” eram utilizados com mais frequência do que qualquer outro.
SCHWARTZ, S. B. Gente da terra braziliense da nação. Pensando o Brasil: a construção de um povo. In: MOTA, C. G. (Org.). Viagem incompleta: a experiência brasileira (1500-2000). São Paulo: Senac, 2000 (adaptado).
TEXTO II
Índio é um conceito construído no processo de conquista da América pelos europeus. Desinteressados pela diversidade cultural, imbuídos de forte preconceito para com o outro, o indivíduo de outras culturas, espanhóis, portugueses, franceses e anglo-saxões terminaram por denominar da mesma forma povos tão díspares quanto os tupinambás e os astecas.
SILVA, K. V.; SILVA, M. H. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2005.
Ao comparar os textos, as formas de designação dos grupos nativos pelos europeus, durante o período analisado, são reveladoras da: