Atualidades Enem: Intolerância
Entenda o que é intolerância, suas origens e como o tema pode ser abordado no Enem
O conceito de intolerância já foi tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2016, com a proposta “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”.
Não era a primeira vez que o assunto permeava os temas de redação do Enem. Em anos anteriores, a prova abordou temas como “O desafio de se conviver com a diferença” (2007) e “O movimento imigratório para o Brasil no século XXI” (2012).
Por se relacionar com vários assuntos, o debate sobre tolerância e intolerância está constantemente em discussão. Nesta matéria, você fica por dentro sobre o tema e como ele pode ser abordado no Enem. Confira!
O que é tolerância e intolerância?
A palavra tolerância vem do latim tolerare e significa “aceitar” ou “suportar”. A tolerância, portanto, é a capacidade de aceitar o outro como ele é, respeitando seu modo de ser, pensar e agir.
Já a intolerância, é o oposto; é a ação de não aceitar o diferente. “Intolerância se caracteriza por qualquer opressão a livre iniciativa do indivíduo, tanto em relação econômica, social, religiosa, política ou de pensamento”, explica o professor de Filosofia e Sociologia e Coordenador do ProEnem Leandro Vieira.
A tolerância é fundamental para que se viva em uma sociedade diversa, democrática e livre. Muitas vezes, as expressões de intolerância levam ao preconceito, discriminação e violência.
A intolerância também pode carregar outros nomes, de acordo com o grupo a qual ela é direcionada. A intolerância com pessoas negras, por exemplo, se configura como racismo; a intolerância com pessoas LBGT é chamada de homofobia ou LGBTfobia; a intolerância motivada por gênero é designada sexismo, e por aí vai.
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A tolerância como um direito
A ideia de tolerância surgiu no contexto do Iluminismo no século XVII e foi teorizada pelo filósofo inglês John Locke. Como forma de acabar com as guerras religiosas, em uma carta, Locke propôs a separação do Estado e da Igreja, uma vez que cada instituição tem seu propósito e caráter.
Durante a Revolução Inglesa, essas e outras ideias iluministas influenciaram o Parlamento Inglês a aprovar propostas como o Ato da Tolerância, que estabelecia a liberdade religiosa (exceto a católicos).
As declarações iluministas das revoluções Gloriosa e Francesa, por sua vez, inspiraram a Declaração Universal dos Direitos Humanos, publicada em 1948 pela Organização das Nações Unidas (ONU).
O documento estabelece os direitos fundamentais a todo os seres humanos independente da cor, origem, orientação sexual, religião, gênero ou inclinação política. A declaração serve como base contra a desigualdade humana, contra formas de calar violentamente expressões e manifestações culturais, sociais e políticas.
As origens da intolerância
A intolerância não é uma novidade do mundo moderno, ela existe há milênios. Um exemplo da Antiguidade é o Império Romano, no qual os romanos se sentiam superiores e subjugavam vários povos de diferentes culturas e etnias ao seu domínio. O próprio termo latim imperium significa poder e autoridade.
A intolerância ao diferente também marcou a Idade Média, quando haviam perseguições e opressões vindas da Igreja Católica e monarquias absolutistas. Na Idade Moderna, ela se expressou pela colonização na América, quando milhares de indígenas foram dizimados e africanos foram feitos de escravos.
No contexto brasileiro, o professor Leandro destaca a intolerância religiosa, observada em diversos momentos da história brasileira, principalmente contra religiões de matriz africana, e as intolerâncias a livre expressão, como no Brasil Império, Estado Novo e no Regime Militar.
Hoje em dia, as manifestação da intolerância e de discursos de ódio também aparecem nas redes sociais, Não são raros os ataques motivados por divergências políticas, racismo, LGBTfobia, discriminação com pessoas nordestinas e tantos outros.
O cúmulo da intolerância
Uma das maiores representações da gravidade da intolerância na história recente é o Holocausto, o genocídio de milhões de judeus, ciganos, comunistas, homossexuais, negros, feministas, pessoas com deficiência, entre outros grupos minoritários, pelo governo nazista de Hitler, durante a Segunda Guerra Mundial.
O Nazismo e outros governos totalitários pregavam violência, opressão às liberdades individuais e políticas, xenofobia, racismo e intolerância religiosa. Até hoje, ainda existem manifestações de grupos com os ideias nazistas (os chamados neonazistas).
Uma das explicações dos especialistas para o fortalecimento desses grupos na atualidade são as crises políticas e econômicas. Em geral, se buscam culpados pelos problemas do país e culpa recai sobre o diferente, sejam opositores políticos, imigrantes ou pessoas de outras culturas.
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Paradoxo da Intolerância
Muitas vezes, essas manifestações defendidas com base na liberdade de expressão. Mas, em sua teoria “Paradoxo da Tolerância”, de 1945, o filósofo austríaco Karl Popper defende que é necessário suprimir as expressões intolerantes que não possam ser combatidas com argumentos racionais.
O filósofo aponta que a tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância, pois os indivíduos tolerantes e a tolerância serão destruídos pelos intolerantes. Portanto, mesmo sendo um paradoxo, Popper defende que a sociedade tolerante deve ser intolerante com os intolerantes.
Os números da intolerância
De acordo com o Mapa do Ódio de 2019, um levantamento feito pela ONG Words Heal the World, em 2018, foram registrados 12.098 crimes de ódio no Brasil. A organização também mapeou a motivação desses crimes:
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70,47% – crimes de ódio motivados por preconceito racial;
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17,9% – crimes de ódio motivados por preconceito com relação à orientação sexual (majoritariamente pessoas LGBT);
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9,43% – crimes de ódio motivados por preconceito de gênero (majoritariamente mulheres; feminicídio)
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1,82% – crimes de ódio motivados por preconceito religioso;
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0,39% – crimes de ódio à origem.
Como o tema pode cair no Enem?
A intolerância pode aparecer no vestibular de diversas formas. O professor Leandro cita a opressão do regime nazista e fascista, a escravidão no Brasil, a intolerância religiosa contra a umbanda e candomblé, as desigualdades de gênero, o controle da imprensa e a intolerância às orientações sexuais.
A respeito da redação do Enem, o professor de Redação e Português, também do ProEnem, Rômulo Bolivar, não tem expectativas de que o tema abordado seja intolerância, justamente pela polêmica em torno do assunto.
Mas, ele alerta: “Apesar disso, os alunos devem estar preparados para o tema. É importante estarem atentos ao percurso que a preocupação com direitos coletivos e individuais faz, desde as aspirações iluministas dos séculos XVII e XVIII, passando pelo fomento à Declaração Universal dos Direitos Humanos, pela promulgação da Constituição Federal, de 1988, até às mais recentes metas de sustentabilidade da ONU para 2030”.
Rômulo ainda destaca que a intolerância tem relação direta com o desrespeito aos direitos humanos, o que implica anulação da proposta de intervenção e a perda de 200 pontos na nota da redação.
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