Um dos principais pontos de atenção que os alunos devem ter ao realizar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é quanto ao seu acervo cultural relacionado à literatura nacional.
Baixe: Plano de estudo grátis para o Enem
+ Encontre bolsas de estudo de até 80%
Mesmo não contando com uma lista de leitura obrigatória como outros vestibulares, o Enem utiliza muitas referências da literatura brasileira para compôr suas questões. E não somente as de português e linguagens, viu? Muitos textos que trabalham temas diversificados ou sobre a história do Brasil podem aparecer em questões de geografia, história e até mesmo em questões lógicas.
Hoje, você confere 10 dos autores que mais caem no Enem, e vai descobrir um pouco mais sobre seus períodos litérarios, suas principais obras e até exemplos de questões nas quais cada um foi citado no exame. Vamos lá!
Leia mais: + Dia Nacional do Livro: 7 autores para citar na redação
+ 9 escritoras brasileiras que todo estudante precisa conhecer
Autores que mais aparecem no Enem
Machado de Assis

Machado de Assis (1839-1908) foi um dos mais importantes escritores da literatura brasileira e é amplamente reconhecido como o maior autor do Realismo no Brasil, apesar de também ter obras que fazem parte do Romantismo.
Período Literário:
Machado de Assis fez parte do movimento literário conhecido como Realismo, que se destacou no Brasil na segunda metade do século XIX. O Realismo caracterizou-se por retratar a sociedade de forma objetiva, explorando temas como a psicologia dos personagens, a crítica social e a análise da realidade brasileira.
Principais Obras:
“Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1881): Esta é uma de suas obras mais famosas e inovadoras. O romance é narrado por um defunto-autor, Brás Cubas, que reflete de forma irônica sobre sua própria vida e a sociedade brasileira.
“Dom Casmurro” (1899): Outra obra-prima de Machado de Assis, este romance narra a história de Bento Santiago, conhecido como Bentinho, que suspeita que sua esposa, Capitu, o tenha traído. A obra é um estudo complexo sobre ciúmes e dúvida.
“Quincas Borba” (1891): Este romance é uma continuação de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e explora o pensamento filosófico de Quincas Borba, um personagem que desenvolve uma filosofia chamada “humanitismo”.
Até o ano de 2022, Machado de Assis já fora citado 7 vezes no Enem. Veja um exemplo de citação que ocorreu no exame no ano de 2014:
Questão 109 – Caderno azul – 2º dia do Enem 2014
Talvez pareça excessivo o escrúpulo do Cotrim, a quem não souber que ele possuía um caráter ferozmente honrado. Eu mesmo fui injusto com ele durante os anos que se seguiram ao inventário de meu pai. Reconheço que era um modelo. Arguíam-no de avareza, e cuido que tinham razão; mas a avareza é apenas a exageração de uma virtude, e as virtudes devem ser como os orçamentos: melhor é o saldo que o déficit. Como era muito seco de maneiras, tinha inimigos que chegavam a acusá-lo de bárbaro.
O único fato alegado neste particular era o de mandar com frequência escravos ao calabouço, donde eles desciam a escorrer sangue; mas, além de que ele só mandava os perversos e os fujões, ocorre que, tendo longamente contrabandeado em escravos, habituara-se de certo modo ao trato um pouco mais duro que esse gênero de negócio requeria, e não se pode honestamente atribuir à índole original de um homem o que é puro efeito de relações sociais.
A prova de que o Cotrim tinha sentimentos pios encontrava-se no seu amor aos filhos, e na dor que padeceu quando morreu Sara, dali a alguns meses; prova irrefutável, acho eu, e não única. Era tesoureiro de uma confraria, e irmão de várias irmandades, e até irmão remido de uma destas, o que não se coaduna muito com a reputação da avareza; verdade é que o benefício não caíra no chão: a irmandade (de que ele fora juiz) mandara-lhe tirar o retrato a óleo.
ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992.
Obra que inaugura o Realismo na literatura brasileira, Memórias póstumas de Brás Cubas condensa numa expressividade que caracterizaria o estilo machadiano: a ironia.
Descrevendo a moral de seu cunhado, Cotrim, o narrador-personagem Brás Cubas refina a percepção irônica ao
- acusar o cunhado de ser avarento para confessar-se injustiçado na divisão da herança paterna.
- atribuir a “efeito de relações sociais” a naturalidade com que Cotrim prendia e torturava os escravos.
- considerar os “sentimentos pios” demonstrados pelo personagem quando da perda da filha Sara.
- menosprezar Cotrim por ser tesoureiro de uma confraria e membro remido de várias irmandades.
- insinuar que o cunhado era um homem vaidoso e egocêntrico, contemplado com um retrato a óleo.
Leia mais: + 178° Aniversário de Machado de Assis: 8 obras que serão cobradas em vestibulares
Carlos Drummond de Andrade

O autor e poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), já foi citado 12 vezes no Enem. Até aqui, o campeão de presença na prova.
Período Literário:
Carlos Drummond de Andrade fez parte do Modernismo no Brasil, um movimento literário e cultural que surgiu na década de 1920. Ele se destacou principalmente na segunda fase do Modernismo, conhecida como Modernismo de 1930, caracterizada por uma busca por uma linguagem mais acessível, temas urbanos e uma reflexão crítica sobre a sociedade brasileira.
Principais Obras:
“Alguma Poesia” (1930): Este é o livro de estreia de Drummond e marca sua entrada notável no cenário literário. O livro inclui uma série de poemas que exploram temas cotidianos, sentimentos pessoais e observações da vida urbana.
“Sentimento do Mundo” (1940): Nesta obra, Drummond reflete sobre as questões sociais, políticas e existenciais de sua época, demonstrando um engajamento mais direto com a realidade brasileira.
“A Rosa do Povo” (1945): Este é um dos livros mais importantes de Drummond e é uma expressão poética profunda sobre a Segunda Guerra Mundial e suas implicações na sociedade brasileira.
“Claro Enigma” (1951): Neste livro, Drummond explora temas como a existência humana, a linguagem e a busca por significado na vida.
Frases Marcantes:
Carlos Drummond de Andrade é conhecido por sua habilidade em expressar sentimentos e pensamentos complexos de forma concisa e impactante. Algumas frases marcantes incluem:
- “No meio do caminho tinha uma pedra.”
- “Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo, seria uma rima, não seria uma solução.”
- “E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José?”
Exemplo de questão do Enem que cita Carlos Drummond:
Questão 134 – Caderno azul – 2º dia do Enem 2012
Aquele bêbado
— Juro nunca mais beber — e fez o sinal da cruz com os indicadores. Acrescentou: — Álcool.
O mais ele achou que podia beber. Bebia paisagens, músicas de Tom Jobim, versos de Mário Quintana. Tomou um pileque de Segall. Nos fins de semana, embebedava-se de Índia Reclinada, de Celso Antônio.
— Curou-se 100% do vício — comentavam os amigos.
Só ele sabia que andava mais bêbado que um gambá. Morreu de etilismo abstrato, no meio de uma carraspana de pôr do sol no Leblon, e seu féretro ostentava inúmeras coroas de ex-alcoólatras anônimos.
ANDRADE, C. D. Contos plausíveis. Rio de Janeiro: Record, 1991.
A causa mortis do personagem, expressa no último parágrafo, adquire um efeito irônico no texto porque, ao longo da narrativa, ocorre uma
a) metaforização do sentido literal do verbo “beber”.
b) aproximação exagerada da estética abstracionista.
c) apresentação gradativa da coloquialidade da linguagem.
d) exploração hiperbólica da expressão “inúmeras coroas”.
e) citação aleatória de nomes de diferentes artistas.
José de Alencar

José de Alencar (1829-1877) foi um influente escritor brasileiro do século XIX, conhecido por suas obras que exploraram temas nacionais e culturais. Aqui está um breve resumo de sua vida, período literário, principais obras e algumas frases marcantes:
Período Literário:
José de Alencar foi uma figura importante do romantismo brasileiro, um movimento literário que floresceu no Brasil durante o século XIX. O romantismo brasileiro estava preocupado com a expressão emocional, a exaltação da natureza e do indivíduo, bem como com temas nacionais e históricos.
Principais Obras:
“O Guarani” (1857): Este romance é uma das obras mais célebres de José de Alencar. Ele narra a história de amor entre Peri, um índio guarani, e Cecília, uma jovem europeia. O livro é considerado um marco da literatura romântica brasileira e aborda temas como a miscigenação e a luta entre índios e colonizadores.
“Iracema” (1865): Outro romance muito conhecido de Alencar, “Iracema” explora a história de amor entre a índia Iracema e o colonizador português Martim. O livro é ambientado na época da colonização do Brasil e é famoso por sua linguagem poética e evocativa.
“Senhora” (1875): Este romance aborda questões sociais e econômicas do Brasil do século XIX, enquanto narra a história de Aurélia, uma mulher que busca vingança contra seu antigo noivo.
Frases Marcantes:
José de Alencar também é conhecido por suas frases impactantes e poéticas. Algumas delas incluem:
“O verdadeiro homem é o que procede da natureza; o homem fabricado é o que se contradiz a si mesmo.”
“Ame-se muito, com toda a alma. Mas que esse amor não o impeça de amar a todos os homens, mesmo os que o ofendam.”
“Quem cai sete vezes, levanta-se oito.”
Questão 98 – Caderno azul – 2º dia do Enem 2012
“Ele era o inimigo do rei”, nas palavras de seu biógrafo, Lira Neto. Ou, ainda, “um romancista que colecionava desafetos, azucrinava D. Pedro II e acabou inventando o Brasil”. Assim era José de Alencar (1829-1877), o conhecido autor de O guarani e Iracema, tido como o pai do romance no Brasil. Além de criar clássicos da literatura brasileira com temas nativistas, indianistas e históricos, ele foi também folhetinista, diretor de jornal, autor de peças de teatro, advogado, deputado federal e até ministro da Justiça. Para ajudar na descoberta das múltiplas facetas desse personagem do século XIX, parte de seu acervo inédito será digitalizada.
História Viva, n. 99, 2011.
Com base no texto, que trata do papel do escritor José de Alencar e da futura digitalização de sua obra, depreende-se que
- a digitalização dos textos é importante para que os leitores possam compreender seus romances.
- o conhecido autor de O guarani e Iracema foi importante porque deixou uma vasta obra literária com temática atemporal.
- a divulgação das obras de José de Alencar, por meio da digitalização, demonstra sua importância para a história do Brasil Imperial.
- a digitalização dos textos de José de Alencar terá importante papel na preservação da memória linguística e da identidade nacional.
- o grande romancista José de Alencar é importante porque se destacou por sua temática indianista.
Aluísio Azevedo

Aluísio Azevedo (1857-1913) foi um importante escritor brasileiro conhecido por suas contribuições ao naturalismo na literatura brasileira. Aqui está um breve resumo de sua vida, período literário, principais obras e algumas frases marcantes:
Período Literário:
Aluísio Azevedo fez parte do movimento literário conhecido como Naturalismo, que teve seu auge no Brasil na segunda metade do século XIX. O Naturalismo é caracterizado por uma abordagem mais objetiva e científica da literatura, enfatizando a influência do meio ambiente e da hereditariedade sobre o comportamento humano.
Principais Obras:
“O Mulato” (1881): Este é o romance de estreia de Aluísio Azevedo e é frequentemente considerado uma das obras pioneiras do naturalismo no Brasil. O livro aborda questões de preconceito racial e conflitos culturais em uma sociedade multirracial.
“O Cortiço” (1890): Esta é uma de suas obras mais conhecidas e é uma crítica social contundente que retrata a vida miserável e as lutas dos habitantes de um cortiço no Rio de Janeiro. O romance explora questões de sexualidade, ganância e decadência moral.
“Casa de Pensão” (1884): Neste romance, Aluísio Azevedo descreve a vida em uma pensão no Rio de Janeiro e examina a psicologia dos personagens em um ambiente fechado.
Questão 125 da prova cinza do segundo dia do Enem 2014 Segunda Aplicação
O mulato
Ana Rosa cresceu; aprendera de cor a gramática do Sotero dos Reis; lera alguma coisa; sabia rudimentos de francês e tocava modinhas sentimentais ao violão e ao piano. Não era estúpida; tinha a intuição perfeita da virtude, um modo bonito, e por vezes lamentara não ser mais instruída. Conhecia muitos trabalhos de agulha; bordava como poucas, e dispunha de uma gargantazinha de contralto que fazia gosto de ouvir.
Uma só palavra boiava à superfície dos seus pensamentos: “Mulato”. E crescia, crescia, transformandose em tenebrosa nuvem, que escondia todo o seu passado. Ideia parasita, que estrangulava todas as outras ideias.
— Mulato!
Esta só palavra explicava-lhe agora todos os mesquinhos escrúpulos, que a sociedade do Maranhão usara para com ele. Explicava tudo: a frieza de certas famílias a quem visitara; as reticências dos que lhe falavam de seus antepassados; a reserva e a cautela dos que, em sua presença, discutiam questões de raça e de sangue.
AZEVEDO, A. O Mulato. São Paulo: Ática, 1996 (fragmento).
O texto de Aluísio Azevedo é representativo do Naturalismo, vigente no final do século XIX. Nesse fragmento, o narrador expressa fidelidade ao discurso naturalista, pois
- relaciona a posição social a padrões de comportamento e à condição de raça.
- apresenta os homens e as mulheres melhores do que eram no século XIX.
- mostra a pouca cultura feminina e a distribuição de saberes entre homens e mulheres.
- ilustra os diferentes modos que um indivíduo tinha de ascender socialmente.
- critica a educação oferecida às mulheres e os maus-tratos dispensados aos negros.